Os capacitores são componentes fundamentais na eletrônica, amplamente utilizados em filtros, circuitos de temporização, fontes de alimentação e sistemas de comunicação. Embora sejam frequentemente descritos como dispositivos que armazenam carga elétrica, a compreensão de seu funcionamento requer o estudo da relação entre capacitância, carga, tensão e resistência. Além disso, diversos fatores influenciam sua operação, como resistência equivalente em série (ESR) e variações de capacitância com a frequência.
Este artigo explora esses conceitos, abordando desde os fundamentos até técnicas de medição utilizando uma ponte LCR.
Capacitância e sua Relação com Coulomb
A capacidade de armazenamento de carga de um capacitor é expressa pela grandeza capacitância (C), medida em farads (F). A relação fundamental que define um capacitor é: C=QVC = \frac{Q}{V}
Onde:
- C é a capacitância em farads (F),
- Q é a carga elétrica armazenada em coulombs (C),
- V é a tensão aplicada ao capacitor em volts (V).
Essa equação mostra que um capacitor com capacitância maior pode armazenar mais carga para um mesmo nível de tensão.
Para ilustrar, um capacitor de 1 farad armazenará 1 coulomb de carga elétrica quando submetido a 1 volt de diferença de potencial. Em circuitos reais, no entanto, os capacitores têm capacitâncias menores, geralmente medidas em microfarads (μF\mu F), nanofarads (nF) e picofarads (pF).
Tempo de Carga e Descarga de um Capacitor
O comportamento dinâmico de um capacitor é descrito pela equação da carga e descarga em circuitos resistivos. Quando um capacitor é carregado através de um resistor, a tensão no capacitor segue uma curva exponencial descrita por:
\[
V_C(t) = V_{\text{fonte}} \left(1 – e^{-\frac{t}{\tau}}\right)
\]
Onde:
- \((t)V_C(t)\) é a tensão no capacitor no instante tt,
- \(V_{\text{fonte}}\) é a tensão da fonte que carrega o capacitor,
- τ (tau) é a constante de tempo do circuito, dada por:
\[
\tau = R \cdot C
\]
A constante de tempo τ define o tempo necessário para que o capacitor atinja aproximadamente 63% da tensão da fonte. Após 5 constantes de tempo (5τ), considera-se que o capacitor está praticamente totalmente carregado (acima de 99%).
No processo de descarga, a equação segue a mesma forma, mas decrescendo: VC(t)=V0e−tτV_C(t) = V_0 e^{-\frac{t}{\tau}}
Onde \(V_0\) é a tensão inicial do capacitor.
Impacto da Resistência na Corrente de Carga
A corrente que flui para o capacitor durante a carga é dada por:
\[
I(t) = \frac{V_{\text{fonte}}}{R} e^{-\frac{t}{\tau}}
\]
Portanto, quanto maior o resistor RR, menor será a corrente inicial e maior será o tempo necessário para carregar completamente o capacitor. Isso é útil em circuitos de temporização e proteção contra surtos.
O Impacto da ESR (Resistência Equivalente em Série)
A resistência equivalente em série (ESR, do inglês Equivalent Series Resistance) representa a resistência interna do capacitor, proveniente de seus materiais e conexões internas. Ela influencia diretamente o desempenho do capacitor, principalmente em circuitos de alta frequência e em aplicações que exigem alta corrente.
Os efeitos da ESR incluem:
- Aquecimento do Capacitor – A dissipação de potência em ESR (P=I2RP = I^2 R) pode elevar a temperatura do capacitor, reduzindo sua vida útil.
- Redução da Eficiência em Filtros – Em circuitos de fontes chaveadas, a ESR elevada pode prejudicar a filtragem da tensão, causando ripple excessivo.
- Modificação no Tempo de Carga – A ESR adiciona uma componente resistiva ao circuito, alterando a constante de tempo efetiva.
Capacitores de baixa ESR são preferidos em aplicações de fontes chaveadas e circuitos de RF, onde a impedância deve ser minimizada para garantir desempenho ideal.
Variação da Capacitância com a Frequência
A capacitância efetiva de um capacitor pode variar conforme a frequência do sinal ao qual ele é submetido. Essa variação ocorre devido a efeitos parasitários, como:
- Reatância capacitiva (XCX_C): A impedância do capacitor é inversamente proporcional à frequência:
\[
X_C = \frac{1}{2 \pi f C}
\]
- Resonância e Indutância Parasitária: A construção física dos capacitores resulta em uma indutância parasitária que, em altas frequências, pode levar o componente a um comportamento indutivo, reduzindo sua eficiência.
Isso é particularmente importante em circuitos de alta frequência, como RF e micro-ondas, onde capacitores cerâmicos multicamadas (MLCCs) são preferidos por manterem uma capacitância mais estável em altas frequências.
Medição da Capacitância e ESR com uma Ponte LCR

A ponte LCR é um instrumento essencial para a medição de parâmetros de capacitores, incluindo:
- Capacitância (C)
- Resistência Equivalente em Série (ESR)
- Reatância Indutiva (XL) e Reatância Capacitiva (XC)
- Fator de dissipação (DF) e fator de qualidade (Q)
As medições são feitas aplicando-se sinais AC em diferentes frequências, permitindo identificar variações na capacitância efetiva e na ESR conforme a frequência.
Procedimento de Medição
- Configuração do Instrumento: Seleciona-se a faixa de medição e a frequência do sinal de teste (normalmente 100 Hz, 1 kHz ou 100 kHz).
- Conexão do Capacitor: O componente é conectado às pontas de teste da ponte LCR.
- Leitura dos Valores: A capacitância e ESR são exibidas diretamente no visor, permitindo a análise de desempenho do capacitor na aplicação desejada.
Esse método permite avaliar a adequação de um capacitor para determinada aplicação, especialmente em circuitos de alta frequência ou fontes chaveadas.
Conclusão
Os capacitores desempenham um papel crucial na eletrônica, armazenando e liberando carga elétrica em circuitos. A relação entre capacitância e carga é definida pela grandeza coulomb, enquanto o tempo de carga e descarga é influenciado por resistências associadas. Além disso, a resistência equivalente em série (ESR) impacta diretamente o desempenho dos capacitores em aplicações práticas, e a capacitância pode variar com a frequência, afetando o funcionamento em circuitos de RF e de alta velocidade.
A medição desses parâmetros com uma ponte LCR permite uma avaliação precisa do comportamento do capacitor, garantindo sua adequação às aplicações específicas. Assim, compreender esses fatores é essencial para projetar circuitos mais eficientes e confiáveis.
Sobre o Autor
Carlos Delfino
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Um Eterno Aprendiz.
Professor de Introdução a Programação, programação com JavaScript, TypeScript, C/C++ e Python
Professor de Eletrônica Básica
Professor de programação de Microcontroladores.
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