Quando analisamos circuitos elétricos e eletrônicos, o entendimento de como a corrente e a tensão se comportam é essencial para compreender o funcionamento dos componentes. Muitas vezes, surge a dúvida sobre o que de fato passa pelo componente: a corrente ou a tensão? Além disso, é comum falarmos sobre “queda de tensão”, mas o que exatamente significa essa queda, principalmente quando falamos de resistores e transistores? Vamos explorar isso de forma mais detalhada, trazendo mais exemplos e enriquecer o entendimento.
Quem passa pelo componente: Corrente ou Tensão?
A corrente e a tensão têm papéis complementares, mas são diferentes em sua natureza e função:
- Corrente (I) é o fluxo de elétrons que atravessa um condutor, passando pelos componentes. É como o fluxo de água em um encanamento. A corrente flui pelo circuito e pode ser medida em amperes (A).
- Tensão (V), por outro lado, é a diferença de potencial elétrico entre dois pontos do circuito, ou seja, a força que “empurra” a corrente. A tensão é medida em volts (V), e podemos compará-la à pressão da água que força o fluxo através de um cano.
Um bom exemplo disso pode ser visto em um circuito com uma lâmpada e uma bateria. A bateria fornece a tensão (a força que empurra os elétrons), e os elétrons fluem pelo fio e pela lâmpada, gerando luz — essa é a corrente que passa pelo filamento da lâmpada.
Exemplo: Queda de Tensão em Resistores
Quando falamos sobre a queda de tensão em um resistor, nos referimos à quantidade de tensão que é “gasta” enquanto a corrente passa por esse componente. De acordo com a Lei de Ohm, a queda de tensão ((V)) sobre um resistor é dada por:
\[
V = R \times I
\]
Por exemplo, imagine um circuito simples onde uma bateria de 12V está conectada a um resistor de 6 ohms. A corrente que passa pelo resistor é:
\[
I = \frac{V}{R} = \frac{12V}{6\Omega} = 2A
\]
Agora, se medirmos a tensão nos terminais do resistor, encontraremos a queda de tensão de 12V, pois toda a tensão da bateria é “consumida” ao atravessar o resistor. Esse conceito é crucial em qualquer circuito resistivo, como por exemplo em um divisor de tensão, onde resistores são usados para criar diferentes níveis de tensão.
Outro exemplo prático de queda de tensão ocorre em fios longos que conectam equipamentos a uma fonte de energia. À medida que a corrente passa pelo fio, parte da energia é dissipada como calor, causando uma queda de tensão que pode ser significativa em longas distâncias.
Queda de Tensão em Componentes Ativos: Transistores
Enquanto resistores causam uma queda de tensão proporcional à corrente, em componentes ativos, como os transistores, a queda de tensão tem outro papel. Vamos focar em um transistor BJT (Transistor Bipolar de Junção), que é amplamente utilizado em circuitos eletrônicos para amplificação e chaveamento.
Em um transistor BJT, existem três terminais: Base (B), Emissor (E) e Coletor (C). Uma das quedas de tensão mais importantes é a queda de tensão base-emissor (V(_{BE})), que é crucial para o funcionamento do transistor.
Quando a junção base-emissor está polarizada diretamente, a queda de tensão V(_{BE}) é de aproximadamente 0,6V a 0,7V para transistores de silício. Isso significa que, para o transistor “ligar” e permitir o fluxo de corrente entre o coletor e o emissor, deve haver uma tensão mínima de 0,6V entre a base e o emissor.
Exemplo de Queda \V_{BE}\):
Imagine um circuito onde um transistor NPN é usado como chave para controlar um LED. Para que o LED acenda, é necessário que o transistor esteja em condução. A corrente que entra na base (IB) gera uma queda de tensão \(V_{BE}\) de 0,7V. Com isso, o transistor entra em sua região ativa e permite que a corrente flua do coletor para o emissor, acendendo o LED. Aqui, a queda de tensão \(V_{BE}\) é o “gatilho” que permite ao transistor operar corretamente.
Além da queda \(V_{BE}\), também existe a queda de tensão coletor-emissor (\(V_{CE}\)). Quando o transistor está saturado, essa queda é pequena, em torno de 0,2V a 0,3V, o que garante que quase toda a tensão da fonte seja aplicada à carga (como o LED, nesse exemplo).
Outros Exemplos de Queda de Tensão
- Diodos: Em um diodo comum de silício, como o 1N4148, a queda de tensão direta é em torno de 0,7V. Ou seja, para que o diodo conduza corrente, a tensão em seus terminais deve ser maior que esse valor. Já em um diodo Schottky, a queda de tensão é menor, geralmente entre 0,2V e 0,3V, o que o torna ideal para aplicações onde baixas quedas de tensão são essenciais, como em circuitos de retificação de alta eficiência.
- LEDs: Os LEDs (diodos emissores de luz) também apresentam uma queda de tensão, que varia conforme a cor. Um LED vermelho típico tem uma queda de tensão de cerca de 1,8V a 2,2V, enquanto LEDs azuis ou brancos podem ter quedas de 3V a 3,6V. Essa característica é importante ao projetar circuitos de iluminação ou sinalização.
- Fios e Condutores: A queda de tensão em fios condutores é um aspecto importante em sistemas de alta potência. Por exemplo, em linhas de transmissão de energia elétrica, a resistência dos fios causa quedas de tensão ao longo de longas distâncias. Para minimizar esse efeito, usa-se fios de menor resistência ou eleva-se a tensão de transmissão (como no caso de linhas de alta tensão).
Conclusão
Em qualquer circuito elétrico, a corrente é o que realmente “passa” através dos componentes, enquanto a tensão é a diferença de potencial que força esse movimento. A queda de tensão, por sua vez, representa a energia que é dissipada ou “gasta” ao longo do caminho da corrente, seja em resistores, transistores, diodos ou qualquer outro componente. Entender esses conceitos permite um controle mais preciso do comportamento dos circuitos, possibilitando ajustes finos em sistemas eletrônicos e eletrodomésticos, bem como em grandes infraestruturas.
Sobre o Autor
Carlos Delfino
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Um Eterno Aprendiz.
Professor de Introdução a Programação, programação com JavaScript, TypeScript, C/C++ e Python
Professor de Eletrônica Básica
Professor de programação de Microcontroladores.