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Como Calcular Capacitância e Resistência em Transformadores para Simulação no LTspice

Tempo de Leitura: 8 minutos

Este artigo explora a modelagem de transformadores em simulações no LTspice, focando no cálculo da capacitância paralela (Cpar), resistência paralela (Rpar), e resistência em série (Rser) do transformador. Tais parâmetros são essenciais para simular com precisão o comportamento de transformadores, especialmente em circuitos de alta frequência. Além disso, discutiremos como obter a frequência de ressonância e o fator de qualidade (Q) do transformador, o que nos permitirá prever o desempenho do componente de forma mais realista. Esta primeira parte abordará os conceitos teóricos fundamentais, enquanto a segunda parte tratará da implementação prática no LTspice.

Introdução

Transformadores são componentes cruciais em sistemas eletrônicos, com aplicações que variam desde fontes de alimentação até dispositivos de comunicação. Embora o comportamento ideal de um transformador seja amplamente conhecido, as imperfeições físicas, como capacitância entre os enrolamentos e a resistência dos fios, afetam o desempenho, principalmente em frequências mais altas. Modelar essas características no LTspice ajuda a prever o desempenho do transformador em condições reais, permitindo ajustes no projeto para minimizar perdas ou melhorar a eficiência.

Capacitâncias parasitas e resistências em série são dois parâmetros críticos em simulações de alta frequência. Este artigo apresenta uma abordagem passo a passo para calcular a capacitância e as resistências do transformador, além de explicar como determinar a frequência de ressonância e o fator de qualidade. O foco aqui será na parte teórica, preparando o terreno para a parte prática.

Capacitância Paralela (Cpar)

Definição

A capacitância paralela, referida aqui como \(C_{\text{par}}\), representa a capacitância distribuída entre as espiras do mesmo enrolamento e entre os enrolamentos primário e secundário. Ela surge naturalmente devido à proximidade física dos condutores no transformador.

Como Estimar

A capacitância paralela pode ser estimada usando fórmulas empíricas que consideram a geometria física do transformador, como a distância entre os enrolamentos, a área das espiras, e as propriedades do material isolante. Uma fórmula básica é:

\[
C_{\text{par}} = \frac{\varepsilon_0 \cdot \varepsilon_r \cdot A}{d}
\]

Onde:

  • \( \varepsilon_0 \) é a permissividade do vácuo \((8.854 \times 10^{-12} \, F/m)\),
  • \( \varepsilon_r \) é a constante dielétrica relativa do material entre os enrolamentos,
  • \( A \) é a área de sobreposição entre os enrolamentos,
  • \( d \) é a distância entre os enrolamentos.

Os valores exatos podem ser medidos ou estimados a partir de dados fornecidos pelo fabricante ou de medições experimentais.

Efeitos da Capacitância Paralela

Em altas frequências, \(C_{\text{par}}\) pode formar um circuito ressonante com a indutância do enrolamento, resultando em ressonância indesejada que pode distorcer o desempenho. Portanto, é essencial modelar essa capacitância corretamente para prever o comportamento do transformador, especialmente em circuitos de alta frequência.

Resistência Paralela (Rpar)

Definição

A resistência paralela, \(R_{\text{par}}\), representa as perdas no núcleo do transformador e em outros componentes passivos do circuito. Essas perdas são predominantemente dependentes do material do núcleo e das propriedades magnéticas em alta frequência.

Como Estimar

\(R_{\text{par}}\) está associada à condutividade do material do núcleo e à dissipação de energia em forma de calor. Em muitos casos, os fabricantes fornecem especificações de perdas no núcleo, que podem ser usadas para estimar \(R_{\text{par}}\). Caso esses dados não estejam disponíveis, é possível estimar empiricamente com medições práticas.

Efeitos da Resistência Paralela

Uma resistência paralela alta reduz as perdas no transformador, aumentando a eficiência, enquanto uma \(R_{\text{par}}\) baixa pode levar a uma maior dissipação de energia em forma de calor e afetar a performance em frequências mais altas.

Descobrindo a Cpar com o Osciloscopio

Com base na prática que fizemos usando o osciloscópio para descobrir a capacitância ou indutância de um componente podemos faze-lo para descobrir a \(C_{par}\) do transformador, meça a indutância com o multímetro digital ou a ponte LCR se tiver. Então faça o procedimento para obter a capacitância que será resultado da formula:

\[
C_{par} = \frac{1}{(2\pi f_r)^2 L}
\]

No final deste artigo está o vídeo no youtube que demonstra o uso do osciloscópio para obter a \(C_{par}\).

Resistência em Série (Rser)

Definição

A resistência em série, \(R_{\text{ser}}\), representa a resistência ôhmica dos enrolamentos de fio condutor do transformador. Essa resistência inclui a resistência DC (corrente contínua) e as perdas adicionais causadas pelo efeito pelicular e pelo efeito de proximidade em frequências mais altas.

Como Estimar

A resistência ôhmica DC pode ser calculada pela fórmula:

\[
R_{DC} = \frac{\rho \cdot l}{A}
\]

Onde:

  • \( \rho \) é a resistividade do material condutor (por exemplo, \(1.68 \times 10^{-8} \, \Omega \cdot m\) para cobre),
  • \( l \) é o comprimento do fio,
  • \( A \) é a área da seção transversal do fio.

Para frequências elevadas, onde o efeito pelicular se torna relevante, a resistência AC pode ser significativamente maior que a DC, devido à diminuição da área efetiva de condução. Essa resistência adicional deve ser considerada no modelo.

Frequência de Ressonância

Cálculo

A frequência de ressonância de um transformador pode ser calculada pela fórmula clássica de ressonância LC:

\[
f_r = \frac{1}{2\pi \sqrt{L C_{\text{par}}}}
\]

Onde:

  • \( L \) é a indutância do enrolamento,
  • \( C_{\text{par}} \) é a capacitância paralela entre os enrolamentos.

A frequência de ressonância é um ponto crítico no comportamento de alta frequência do transformador, pois a impedância do circuito atinge seu valor mínimo, resultando em aumento de corrente e dissipação de potência.

Fator de Qualidade (Q)

Cálculo

O fator de qualidade ( Q ) de um circuito ressonante determina a eficiência da ressonância e é dado por:

\[
Q = \frac{\omega L}{R_{\text{ser}}}
\]

Onde \( \omega = 2\pi f_r \), ( L ) é a indutância do enrolamento, e \( R_{\text{ser}} \) é a resistência em série. Um fator de qualidade alto indica que a ressonância é mais “pura”, com menores perdas, enquanto um ( Q ) baixo indica uma ressonância mais “amortecida” devido às perdas resistivas.


Com esses conceitos teóricos em mente, estamos prontos para passar para a parte prática, onde veremos como aplicar esses cálculos no LTspice para modelar e simular o comportamento do transformador.


Resumo – Parte Prática

Nesta segunda parte do artigo, aplicaremos os conceitos teóricos discutidos anteriormente na prática, utilizando o LTspice para simular um transformador com capacitância paralela (Cpar), resistência paralela (Rpar), e resistência em série (Rser). Vamos montar um modelo de transformador básico, calcular sua frequência de ressonância, e analisar o fator de qualidade (Q) para avaliar o desempenho do transformador em diferentes condições de frequência. Ao final, o leitor será capaz de configurar e simular um transformador com precisão, utilizando as ferramentas e parâmetros adequados.

Introdução

Agora que entendemos os conceitos teóricos de capacitância paralela, resistência paralela e em série, é hora de implementar esses componentes em um simulador prático. O LTspice é uma ferramenta poderosa para esse tipo de simulação, permitindo que verifiquemos como esses parâmetros afetam o desempenho do transformador. Nesta seção, seguiremos um passo a passo para modelar o transformador no LTspice e simular seu comportamento em diferentes frequências, incluindo a identificação da frequência de ressonância e do fator de qualidade.

Montando o Circuito no LTspice

Para começar, precisaremos configurar um circuito de transformador básico no LTspice com os seguintes componentes:

  • Uma fonte de tensão AC para realizar a análise de resposta em frequência.
  • Dois indutores \(L_1\) e \(L_2\) para modelar os enrolamentos primário e secundário do transformador.
  • Capacitância paralela \(C_{\text{par}}\) conectada em paralelo ao enrolamento \(L_1\).
  • Resistência paralela \(R_{\text{par}}\) conectada também em paralelo ao enrolamento \(L_1\).
  • Resistência em série \(R_{\text{ser}}\) conectada em série com \(L_1\) para modelar as perdas do enrolamento.

Exemplo de Código no LTspice:

* Circuito de Simulação de Transformador no LTspice
* L1 = Indutância do primário
* L2 = Indutância do secundário
* Cpar = Capacitância paralela
* Rpar = Resistência paralela
* Rser = Resistência em série

Vin N001 0 AC 1 0 ; Fonte de tensão para análise AC
L1 N001 N002 100u ; Indutância primária (100uH)
Rser N002 N003 0.1 ; Resistência em série (0.1 Ohm)
Cpar N003 N004 1n ; Capacitância paralela (1nF)
Rpar N003 N004 1k ; Resistência paralela (1k Ohm)

* Acoplamento magnético entre L1 e L2
K1 L1 L2 1 ; Coeficiente de acoplamento magnético = 1 (acoplamento perfeito)

* Indutância secundária
L2 N004 0 10u ; Indutância secundária (10uH)

* Simulação de Análise AC
.ac dec 100 10 1MEG ; Varredura de frequência de 10 Hz a 1 MHz
.end

Configurando a Simulação

  1. Inserindo o Circuito:
  • No LTspice, insira os componentes conforme o código acima. Você pode configurar a fonte de tensão (Vin) para realizar a varredura de frequência.
  • Para o acoplamento magnético entre \(L_1\) e \(L_2\), adicione um componente de acoplamento magnético usando o comando K (como mostrado no código) e defina o fator de acoplamento.
  1. Análise de AC:
  • Para realizar a análise de resposta em frequência, vá para Simulate > Edit Simulation Cmd.
  • Selecione AC Analysis, configure uma varredura de 10 Hz a 1 MHz com 100 pontos por década (para capturar detalhes na resposta).
  • Execute a simulação clicando no ícone de “corrida” de simulação.

Visualizando a Frequência de Ressonância

Após a simulação, você poderá visualizar o gráfico de resposta em frequência. A ressonância aparecerá como um pico claro no gráfico da amplitude de tensão ou corrente.

Identificando a Frequência de Ressonância

A frequência onde esse pico ocorre é a frequência de ressonância \(f_r\). Você pode utilizar o cursor no gráfico para identificar exatamente o valor da frequência correspondente ao pico.

Como mencionado na parte teórica, a frequência de ressonância \(f_r\) é dada por:
\[
f_r = \frac{1}{2\pi \sqrt{L C_{\text{par}}}}
\]

Cálculo do Fator de Qualidade (Q)

Agora que temos a frequência de ressonância, podemos calcular o fator de qualidade (Q). Para isso, precisamos do valor de \(R_{\text{ser}}\), que é a resistência em série no enrolamento \(L_1\), e da indutância \(L_1\).

Fórmula para Q:

\[
Q = \frac{\omega L}{R_{\text{ser}}}
\]
Onde \( \omega = 2\pi f_r \).

Exemplo de Cálculo:

  • Suponha que a frequência de ressonância medida seja \(f_r = 500 \, \text{kHz}\), \(L_1 = 100 \, \mu H\), e \(R_{\text{ser}} = 0.1 \, \Omega\).
  • Primeiro, calculamos \( \omega \):
    \[
    \omega = 2\pi \times 500 \times 10^3 = 3.14 \times 10^6 \, \text{rad/s}
    \]
  • Agora, podemos calcular (Q):
    \[
    Q = \frac{3.14 \times 10^6 \times 100 \times 10^{-6}}{0.1} = 3.14 \times 10
    \]
    Portanto, \(Q = 31.4\).

Ajustes Finais

Se o fator (Q) ou a frequência de ressonância não estiverem nos valores desejados, você pode ajustar os valores de \(C_{\text{par}}), (R_{\text{ser}}\), e \(R_{\text{par}}\) no circuito para ver como eles afetam a resposta do sistema.

Conclusão

Nesta segunda parte, vimos como configurar e simular um transformador no LTspice, incorporando capacitância e resistências em paralelo e em série. Identificamos a frequência de ressonância e calculamos o fator de qualidade (Q) para avaliar o desempenho do transformador. Essas ferramentas permitem prever como o transformador se comportará em frequências mais altas, oferecendo insights importantes para o projeto e otimização de transformadores em aplicações práticas.

Vídeo que apresenta como obter a Capacitância com base em circuito ressonante.

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