O diodo é um componente eletrônico semicondutor que conduz corrente elétrica em um único sentido. Ele é formado pela junção de dois materiais semicondutores diferentes: um do tipo P (rico em lacunas) e outro do tipo N (rico em elétrons livres). Quando esses dois materiais se unem, ocorre a formação de uma região sem portadores de carga móveis conhecida como camada de depleção.
Formação da Camada de Depleção
Ao unir as regiões P e N, os elétrons da região N, por serem mais abundantes, começam a se difundir para a região P, onde encontram lacunas para se recombinar. Isso cria uma região em torno da junção onde praticamente não há portadores de carga móveis, pois todos os elétrons e lacunas se recombinaram. Nessa região, chamada de camada de depleção, existe um campo elétrico interno que impede a continuidade dessa recombinação espontânea.
Polarização do Diodo
Quando aplicamos uma tensão direta ao diodo (com o terminal positivo ligado à região P e o negativo à região N), a barreira de potencial da camada de depleção é reduzida, permitindo que os elétrons fluam livremente da região N para a região P, o que resulta na condução de corrente elétrica.
Por outro lado, ao aplicarmos uma tensão reversa (polarização reversa), a camada de depleção aumenta, o que bloqueia quase completamente o fluxo de corrente, permitindo apenas uma corrente mínima de saturação reversa, composta por portadores minoritários.
Cálculo da Corrente no Diodo
A corrente que atravessa o diodo em polarização direta pode ser calculada pela seguinte equação:
\[
I_D = I_S \left( e^{\frac{V_D}{nV_T}} – 1 \right)
\]
Onde:
- \(I_D\) é a corrente direta que atravessa o diodo (em amperes),
- \(I_S\) é a corrente de saturação reversa (em amperes),
- \(V_D\) é a tensão direta aplicada ao diodo (em volts),
- \(V_T\) é a tensão térmica \((V_T = \frac{kT}{q})\) (em volts),
- \(k\) é a constante de Boltzmann \((1,38 \times 10^{-23} \, J/K)\),
- \(T\) é a temperatura absoluta (em Kelvin),
- \(q\) é a carga do elétron \((1,6 \times 10^{-19} \, C)\),
- \(n\) é o fator de idealidade (geralmente entre 1 e 2),
- \(e\) é a base do logaritmo natural (número de Euler, aproximadamente 2,718).
Exemplo Prático
Suponha um diodo de silício com uma corrente de saturação \(I_S = 10^{-12}\) A e uma tensão direta aplicada de \(V_D = 0,7\) V. Vamos calcular a corrente que atravessa o diodo usando a equação da corrente direta:
\[
I_D = 10^{-12} \left( e^{\frac{0,7}{0,026}} – 1 \right)
\]
Calculando a exponencial:
\[
I_D = 10^{-12} \left( e^{26,92} – 1 \right) \approx 0,5 \, A
\]
Nesse exemplo, a corrente direta no diodo é de aproximadamente 0,5 A.
Espaço para Imagem 1: Esquema da junção PN mostrando a camada de depleção e os elétrons se movendo na polarização direta e reversa.
A Camada de Deriva em Diodos de Alta Potência
Além da camada de depleção, os diodos utilizados em aplicações de alta potência possuem uma estrutura adicional chamada camada de deriva. Essa camada é projetada para permitir que o diodo suporte altas tensões reversas e lidar com grandes correntes, tornando-o ideal para uso em retificadores de alta tensão e circuitos de potência.
O que é a Camada de Deriva?
A camada de deriva é uma região levemente dopada do semicondutor tipo N que se estende além da camada de depleção. Sua principal função é aumentar a distância física entre as regiões de alta dopagem do diodo, permitindo que ele suporte maiores campos elétricos. Quando o diodo é polarizado reversamente, a camada de depleção se expande dentro da camada de deriva, o que ajuda a evitar a ruptura elétrica.
Essa camada, por sua vez, introduz uma resistência adicional ao fluxo de corrente quando o diodo é polarizado diretamente, o que resulta em uma queda de tensão direta maior em comparação com diodos sem essa estrutura. Apesar disso, o benefício de suportar tensões elevadas é fundamental para aplicações em alta potência.
Função da Camada de Deriva em Alta Potência
Em diodos comuns, a camada de depleção é suficiente para bloquear tensões reversas moderadas. No entanto, em diodos de alta potência, como os usados em retificadores industriais, a camada de deriva ajuda a dissipar a energia do campo elétrico, garantindo que o diodo não sofra ruptura, mesmo sob tensões muito elevadas.
Resistência da Camada de Deriva
A resistência da camada de deriva é um fator importante no comportamento dos diodos de potência. Essa resistência pode ser calculada pela fórmula:
\[
R_D = \frac{\rho L}{A}
\]
Onde:
- \(R_D\) é a resistência da camada de deriva (em ohms, \(\Omega)\),
- \(\rho\) (rô) é a resistividade do material semicondutor (em ohms-metro, \(\Omega \cdot m)\),
- \(L\) é a espessura da camada de deriva (em metros),
- \(A\) é a área da seção transversal da camada de deriva (em metros quadrados, \(m^2)\).
Essa equação mostra que a resistência da camada de deriva é proporcional à sua espessura e inversamente proporcional à área de sua seção transversal. Ou seja, quanto maior for a espessura da camada, maior será sua resistência, e quanto maior a área, menor será a resistência.
Exemplo Prático
Vamos aplicar a fórmula para um diodo de potência com as seguintes características:
- Resistividade do material \(\rho = 1 \, \Omega \cdot m\),
- Espessura da camada de deriva \(L = 10^{-3} \, m\) (1 mm),
- Área da seção transversal \(A = 10^{-6} \, m^2\) (1 mm²).
Usando a fórmula:
\[
R_D = \frac{1 \cdot 10^{-3}}{10^{-6}} = 1000 \, \Omega
\]
Nesse exemplo, a resistência da camada de deriva é de 1000 ohms, o que pode gerar uma queda de tensão significativa quando o diodo estiver conduzindo corrente. Esse valor de resistência é essencial para que o diodo possa suportar tensões reversas elevadas em aplicações de potência.
Impacto na Comutação
Embora a camada de deriva permita ao diodo suportar tensões reversas elevadas, ela também influencia o tempo de comutação. Como os portadores de carga precisam percorrer uma distância maior dentro da camada de deriva, o tempo necessário para que o diodo “desligue” após a polarização reversa é maior, afetando a velocidade de comutação.
Isso torna esses diodos menos adequados para aplicações de alta frequência, onde tempos de comutação rápidos são essenciais, mas eles são perfeitos para circuitos de alta tensão e alta corrente, como em retificadores industriais e sistemas de distribuição de energia.
Espaço para Imagem 2: Estrutura de um diodo de potência com camada de deriva, destacando a resistência e a espessura.
O Diodo Túnel e o Tunelamento Quântico
O diodo túnel é um tipo especial de diodo semicondutor que utiliza o fenômeno do tunelamento quântico para permitir a condução de corrente elétrica, mesmo em condições em que um diodo convencional não seria capaz de operar. Este tipo de diodo apresenta um comportamento único, incluindo uma região de resistência negativa, e é amplamente utilizado em aplicações de alta frequência e dispositivos de micro-ondas.
O Fenômeno do Tunelamento Quântico
No diodo túnel, a camada de depleção entre as regiões P e N é extremamente fina, devido à alta dopagem dos semicondutores. Em um diodo comum, a corrente direta só flui quando a tensão aplicada supera a barreira de potencial. No entanto, em um diodo túnel, os elétrons podem “tunelar” através dessa barreira de potencial, mesmo sem atingir a energia suficiente para superá-la de forma clássica.
Esse tunelamento é um fenômeno puramente quântico, onde os elétrons, ao encontrarem uma barreira de potencial, têm uma probabilidade finita de atravessá-la, mesmo com energia insuficiente, graças ao comportamento dual de partícula e onda descrito pela mecânica quântica.
A Região de Resistência Negativa
Uma característica única do diodo túnel é a presença de uma região de resistência negativa em sua curva corrente-tensão (I-V). Nessa região, à medida que a tensão aplicada aumenta, a corrente diminui, o que é o oposto do que acontece em diodos convencionais. Essa propriedade é altamente explorada em circuitos osciladores e amplificadores de alta frequência.
Fórmula da Corrente no Diodo Túnel
A corrente no diodo túnel pode ser descrita pela equação de Tsu-Esaki, que explica o tunelamento quântico em semicondutores:
\[
I = \frac{e}{h} \int_{-\infty}^{\infty} [f(E_F – E) – f(E_F – E – qV)] T(E) dE
\]
Onde:
- \(I\) é a corrente que atravessa o diodo túnel (em amperes),
- \(e\) é a carga do elétron \((1,6 \times 10^{-19} \, C)\),
- \(h\) é a constante de Planck \((6,626 \times 10^{-34} \, J \cdot s)\),
- \(f(E)\) é a função de distribuição de Fermi-Dirac (adimensional),
- \(E_F\) é o nível de Fermi (em joules),
- \(E\) é a energia do elétron (em joules),
- \(V\) é a tensão aplicada ao diodo túnel (em volts),
- \(T(E)\) é a probabilidade de tunelamento (adimensional).
Exemplo Prático: Aplicação em Osciladores de Alta Frequência
Vamos considerar um oscilador de micro-ondas que utiliza um diodo túnel para gerar sinais de alta frequência. A chave para essa operação é o comportamento de resistência negativa do diodo túnel, que pode ser explorado para realimentar energia no circuito e gerar oscilações.
Para esse exemplo, suponha que o diodo túnel esteja operando em uma região onde a resistência negativa observada seja de -50 ohms, e que a tensão aplicada seja de 50 mV.
Usando a fórmula de corrente simplificada para a região de resistência negativa, podemos aproximar a corrente como:
\[
I = \frac{V}{R}
\]
Onde:
- \(I\) é a corrente (em amperes),
- \(V\) é a tensão aplicada (em volts),
- \(R\) é a resistência (em ohms).
Substituindo os valores:
\[
I = \frac{50 \times 10^{-3}}{-50} = -1 \, mA
\]
Nesse caso, a corrente resultante será de -1 mA, indicando que o diodo está operando na região de resistência negativa, essencial para gerar oscilações. Esse comportamento é amplamente utilizado em amplificadores de alta frequência e circuitos osciladores, onde o diodo túnel pode fornecer realimentação positiva, favorecendo a geração de ondas de alta frequência.
Aplicações do Diodo Túnel
Os diodos túneis são utilizados em várias aplicações práticas, principalmente onde são necessárias operações em frequências extremamente altas. Alguns exemplos incluem:
- Osciladores de micro-ondas: Usam a resistência negativa do diodo para gerar oscilações em frequências que vão até a faixa dos terahertz.
- Amplificadores de sinal de alta frequência: O diodo túnel pode amplificar sinais devido à sua capacidade de conduzir corrente mesmo em condições de baixa tensão.
- Dispositivos de chaveamento ultrarrápido: Sua resposta extremamente rápida a mudanças de tensão o torna útil em sistemas onde a velocidade é crítica.
Espaço para Imagem 3: Curva I-V do diodo túnel, destacando a região de resistência negativa e o comportamento de tunelamento.
O Diodo de Barreira Schottky e a Física Quântica
O diodo de barreira Schottky é uma junção semicondutora diferente dos diodos convencionais de junção PN, sendo formado pela junção entre um metal e um semicondutor tipo N. Esse diodo apresenta características importantes, como uma queda de tensão direta baixa e uma comutação ultrarrápida, o que o torna ideal para aplicações de alta velocidade e baixa dissipação de energia.
Funcionamento do Diodo Schottky
Ao contrário dos diodos tradicionais, nos quais a condução de corrente ocorre pela recombinação de lacunas e elétrons, no diodo Schottky a condução ocorre pela emissão de elétrons do metal para o semicondutor. A barreira de potencial criada nessa junção é conhecida como barreira Schottky, e a sua altura determina as propriedades do diodo.
Devido à natureza da junção metal-semiconductor, a barreira Schottky é tipicamente mais baixa do que a barreira de potencial em um diodo PN. Como resultado, a queda de tensão direta do diodo Schottky é significativamente menor, ficando entre 0,2 V e 0,3 V, enquanto em um diodo de silício típico essa queda é de aproximadamente 0,7 V.
Fórmula da Corrente no Diodo Schottky
A corrente no diodo Schottky pode ser descrita pela seguinte equação:
\[
I = A^* T^2 e^{\frac{-q \phi_b}{kT}} \left( e^{\frac{qV}{kT}} – 1 \right)
\]
Onde:
- \(I\) é a corrente que atravessa o diodo (em amperes),
- \(A^*\) é a constante de Richardson (em amperes por metro quadrado por kelvin ao quadrado, \(A \cdot m^{-2} \cdot K^{-2})\),
- \(T\) é a temperatura absoluta (em Kelvin),
- \(q\) é a carga do elétron \((1,6 \times 10^{-19} \, C)\),
- \(\phi_b\) (fi) é a altura da barreira Schottky (em volts),
- \(k\) é a constante de Boltzmann \((1,38 \times 10^{-23} \, J/K)\),
- \(V\) é a tensão aplicada ao diodo (em volts),
- \(e\) é a base do logaritmo natural (número de Euler, aproximadamente 2,718).
Essa fórmula reflete o comportamento da corrente no diodo Schottky, levando em consideração tanto o tunelamento quântico como o efeito de emissão térmica de elétrons através da barreira.
Exemplo Prático: Cálculo de Corrente no Diodo Schottky
Considere um diodo Schottky operando a uma temperatura de \(T = 300 \, K\) (temperatura ambiente), com uma altura de barreira \(\phi_b = 0,3 \, V\), e uma tensão direta aplicada de \(V = 0,2 \, V\). Usando a constante de Richardson \(A^* = 120 \, A/m^2K^2\), vamos calcular a corrente que atravessa o diodo.
Primeiro, aplicamos os valores conhecidos na fórmula:
\[
I = 120 \cdot (300)^2 e^{\frac{-1,6 \times 10^{-19} \times 0,3}{1,38 \times 10^{-23} \times 300}} \left( e^{\frac{1,6 \times 10^{-19} \times 0,2}{1,38 \times 10^{-23} \times 300}} – 1 \right)
\]
Calculando os expoentes:
- Para o termo \(\frac{-q \phi_b}{kT}\):
\[
\frac{-1,6 \times 10^{-19} \times 0,3}{1,38 \times 10^{-23} \times 300} = -11,59
\] - Para o termo \(\frac{qV}{kT}\):
\[
\frac{1,6 \times 10^{-19} \times 0,2}{1,38 \times 10^{-23} \times 300} = 4,82
\]
Substituindo esses valores na equação original:
\[
I = 120 \cdot 90000 \cdot e^{-11,59} \left( e^{4,82} – 1 \right)
\]
Calculando os valores das exponenciais:
- \(e^{-11,59} \approx 9 \times 10^{-6}\),
- \(e^{4,82} \approx 124\).
Substituindo novamente:
\[
I = 120 \cdot 90000 \cdot 9 \times 10^{-6} \cdot (124 – 1)
\]
\[
I \approx 120 \cdot 90000 \cdot 9 \times 10^{-6} \cdot 123 = 120 \cdot 90000 \cdot 1,107 \times 10^{-3} = 11,97 \, A
\]
Nesse exemplo, a corrente que atravessa o diodo Schottky é de aproximadamente 11,97 A.
Aplicações do Diodo Schottky
Os diodos de barreira Schottky são amplamente utilizados em aplicações que requerem:
- Comutação rápida: A baixa carga armazenada na junção permite que esses diodos operem a altas frequências, tornando-os ideais para circuitos de rádio-frequência (RF) e fontes de alimentação chaveadas.
- Baixa queda de tensão direta: Essa característica é essencial em retificadores e fontes de alimentação de baixa potência, onde a eficiência é crucial.
- Proteção contra sobretensões: Devido à sua resposta rápida, o diodo Schottky é utilizado como clamp para proteger circuitos de tensão excessiva.
Espaço para Imagem 4: Junção metal-semiconductor no diodo Schottky, mostrando a barreira de potencial e a condução de corrente.
Referências
- Malvino, A. P. – Eletrônica, Volume 1 (8ª edição)
- Livro referência no estudo de eletrônica básica e semicondutores, abordando em profundidade os princípios de funcionamento de diodos, transistores e outros componentes.
- Editora: AMGH, 2016.
- Electronics Tutorials – Diodos de Junção PN
- Um recurso detalhado sobre os fundamentos dos diodos, explicando a junção PN, camada de depleção, características de corrente e tensão.
- Disponível em: https://www.electronics-tutorials.ws/diode/diode_2.html
- All About Circuits – Diodos Túnel e Schottky
- Artigo abrangente sobre diodos especializados, como o diodo túnel e o diodo Schottky, com foco em aplicações e comportamento quântico.
- Disponível em: https://www.allaboutcircuits.com/textbook/semiconductors/chpt-3/tunnel-diodes/
- Physics Today – Física Quântica e Tunelamento
- Explicação detalhada sobre os fenômenos quânticos envolvidos em dispositivos semicondutores, como o tunelamento quântico que ocorre em diodos de barreira Schottky e diodos túnel.
- Disponível em: https://physicstoday.scitation.org
- HyperPhysics – Introdução ao Tunelamento Quântico
- Uma excelente introdução à mecânica quântica aplicada em semicondutores, com foco no fenômeno do tunelamento.
- Disponível em: http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/quacon.html
Sobre o Autor
Carlos Delfino
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Um Eterno Aprendiz.
Professor de Introdução a Programação, programação com JavaScript, TypeScript, C/C++ e Python
Professor de Eletrônica Básica
Professor de programação de Microcontroladores.