Como Funciona um LED: Cores, Tensões, Correntes e Cálculo do Resistor

Tempo de Leitura: 7 minutos

Você já parou para pensar como uma pequena luz em um controle remoto, um display digital ou uma lanterna de LED pode funcionar com tão pouca energia e ainda durar milhares de horas? Esses pequenos pontos de luz que encontramos em praticamente todos os dispositivos eletrônicos modernos são os LEDsDiodos Emissores de Luz — componentes essenciais na eletrônica atual.

Neste artigo, vamos explorar de forma clara e acessível o que é um LED, como ele funciona, quais as tensões e correntes típicas conforme a cor e aplicação, e como fazer o cálculo correto do resistor limitador de corrente, passo a passo. Também vamos entender o que é a camada de depleção, um conceito fundamental para compreender o funcionamento interno do LED, e conhecer a história fascinante do LED azul, uma descoberta que revolucionou a indústria da iluminação.

Se você está começando na eletrônica ou apenas quer entender melhor esse componente tão presente no nosso dia a dia, este artigo foi feito para você. Vamos juntos acender essa ideia?


O Que é um LED e Como Ele Funciona?

O LED, sigla para Light Emitting Diode (ou Diodo Emissor de Luz), é um dos componentes mais utilizados em eletrônica, desde simples indicadores em placas até sistemas de iluminação avançados. Seu princípio de funcionamento se baseia em um conceito fundamental da eletrônica de semicondutores: a emissão de luz por recombinação de elétrons e lacunas em uma junção PN.

Diodo e Camada de Depleção

Um LED é, essencialmente, um diodo especial feito com materiais semicondutores que têm a capacidade de emitir fótons (luz) quando eletrizados. Como todo diodo, ele possui uma junção PN — onde a parte “P” tem excesso de lacunas (ausência de elétrons) e a parte “N” tem excesso de elétrons livres. Entre essas duas regiões forma-se a chamada camada de depleção, uma região onde não há portadores livres. Essa camada é como uma barreira elétrica: para o LED conduzir corrente, essa barreira precisa ser vencida por uma tensão adequada (polarização direta).

Quando o LED é polarizado diretamente (positivo no anodo e negativo no catodo), os elétrons da região N se movem em direção à região P. Lá, eles se recombinam com as lacunas e liberam energia na forma de luz. Essa emissão é conhecida como eletroluminescência.

A cor do LED está diretamente relacionada ao material semicondutor usado e à largura da banda proibida (gap) do material. Essa largura de banda define a quantidade de energia (em elétron-volts) liberada na forma de luz — que, por sua vez, define a cor visível.

Tensões de Funcionamento por Cor e Correntes por Aplicação

Cada LED possui uma tensão de condução característica, que depende do material semicondutor utilizado e, por consequência, da cor da luz que ele emite. Isso ocorre porque a energia necessária para que os elétrons saltem a camada de depleção — e, portanto, emitam fótons — varia conforme o comprimento de onda da luz (cor). Veja abaixo uma tabela com as tensões típicas de operação para LEDs padrão:

Cor do LEDTensão típica (V)
Infravermelho1,2 a 1,6 V
Vermelho1,8 a 2,2 V
Laranja2,0 a 2,2 V
Amarelo2,0 a 2,4 V
Verde2,0 a 3,2 V
Azul2,8 a 3,5 V
Branco3,0 a 3,5 V
Roxo / UV3,0 a 3,8 V

Atenção: Esses valores podem variar conforme o fabricante e o tipo de LED (alto brilho, potência, SMD, etc.).

Corrente de Operação

A corrente típica de operação também varia com a aplicação:

  • LEDs indicadores comuns: operam entre 10 mA e 20 mA.
  • LEDs de alto brilho: entre 30 mA e 100 mA.
  • LEDs de potência (como usados em refletores ou iluminação residencial): podem operar com correntes de 350 mA a vários amperes, com controle por corrente constante.
  • LEDs para displays ou painéis: frequentemente trabalham com 5 mA a 10 mA, para reduzir consumo e calor.

A corrente deve sempre ser limitada para evitar o superaquecimento e a destruição do LED. Por isso, o uso de um resistor limitador é essencial, como veremos a seguir.

Como Calcular o Resistor para um LED

Para garantir que o LED funcione corretamente e tenha uma vida útil longa, é necessário limitar a corrente que passa por ele. Isso é feito usando um resistor em série com o LED.

Fórmula do Resistor para LED

A fórmula para calcular o valor do resistor é baseada na Lei de Ohm: \[R = \frac{V_{\text{fonte}} – V_{\text{LED}}}{I}\]

Onde:

  • R = resistência do resistor (em ohms, Ω\Omega)
  • \(V_{\text{fonte}}\) = tensão da fonte de alimentação (em volts)
  • \(V_{\text{LED}}\) = tensão de condução do LED (em volts)
  • I = corrente desejada no LED (em ampères)

Exemplo Prático

Imagine que você queira acender um LED vermelho (com VLED=2,0 VV_{\text{LED}} = 2,0 \, V) usando uma fonte de 5V, com uma corrente de 15 mA.

Aplicando a fórmula: \[R = \frac{5V – 2V}{0{,}015A} = \frac{3}{0{,}015} = 200 \, \Omega\]

Neste caso, você poderia usar um resistor de 220 ohms, que é um valor comercial próximo, garantindo uma corrente um pouco menor e protegendo melhor o LED.

Dica Importante

  • Sempre escolha o resistor com potência adequada. A potência dissipada é dada por:

\[P = I^2 \cdot R\]

No exemplo acima: \(P = (0{,}015)^2 \cdot 200 = 0{,}045 \, W\)

Ou seja, um resistor de ¼ de watt (0,25 W) é suficiente.

Múltiplos LEDs

Se você for utilizar vários LEDs, os cálculos mudam:

  • Em série: a tensão total dos LEDs se soma. Ex: 3 LEDs vermelhos (2V cada) em série = 6V de queda total.
  • Em paralelo: cada LED deve ter seu próprio resistor se quiser garantir corrente equilibrada.

O Que é a Camada de Depleção e Sua Relação com o LED

A camada de depleção é uma região presente na junção entre dois tipos de materiais semicondutores: tipo P (rico em lacunas) e tipo N (rico em elétrons livres). Essa junção é a base do funcionamento dos diodos semicondutores, incluindo os LEDs.

Como Ela se Forma?

Quando juntamos um semicondutor tipo P com um tipo N, os elétrons da região N tendem a se mover em direção à região P, onde existem lacunas (ou “buracos”). O oposto também ocorre: as lacunas da região P tentam migrar para o lado N.

Esse movimento inicial faz com que os elétrons e lacunas se recombinem na fronteira entre os dois materiais, formando uma região sem portadores livres — ou seja, sem elétrons nem lacunas móveis. Essa região é a camada de depleção (ou “zona de esvaziamento”).

Essa camada atua como uma barreira elétrica natural, impedindo que a corrente flua entre os dois lados sem a aplicação de uma tensão externa.

E o que isso tem a ver com o LED?

No LED, quando aplicamos uma tensão direta (ou seja, o lado positivo da fonte no anodo e o lado negativo no catodo), essa barreira da camada de depleção é reduzida, permitindo que os elétrons do lado N atravessem a junção e se recombinem com as lacunas do lado P.

Essa recombinação libera energia na forma de luz — um fenômeno chamado de eletroluminescência. A energia do fóton emitido depende da largura da camada de depleção, que por sua vez está relacionada à estrutura atômica dos materiais usados no LED. É isso que determina a cor da luz emitida.

Por isso, compreender a camada de depleção é essencial para entender:

  • Por que um LED precisa de uma tensão mínima para acender (a tensão de limiar).
  • Por que diferentes cores de LED têm tensões diferentes (depende da energia necessária para recombinação).
  • Como evitar a polarização reversa, que pode danificar o LED.

A História do LED Azul e Seu Impacto na Indústria

Durante muitos anos, os LEDs estavam limitados a cores como vermelho, laranja, amarelo e verde, pois os semicondutores necessários para emitir luz azul simplesmente não existiam com eficiência suficiente. Essa ausência impedia o desenvolvimento de LEDs brancos — que dependem da mistura das três cores primárias (vermelho, verde e azul) ou da aplicação de fósforos sobre LEDs azuis.

Esse cenário mudou na década de 1990 com a descoberta revolucionária do LED azul, uma conquista que exigiu décadas de pesquisa e superação de obstáculos técnicos.

A Descoberta

Três cientistas japoneses — Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura — foram os grandes responsáveis por essa inovação. Eles conseguiram fabricar LEDs baseados em nitreto de gálio (GaN), um material semicondutor que permitia a emissão eficiente de luz azul de alta intensidade.

Esse avanço foi tão significativo que rendeu aos três o Prêmio Nobel de Física em 2014, por “a invenção de diodos emissores de luz azul eficientes, que permitiram fontes de luz branca brilhante e de baixo consumo”.

O Impacto no Mercado

Com a criação do LED azul, tornou-se possível criar LEDs brancos de alta eficiência e longa duração — uma verdadeira revolução na indústria de iluminação. Isso teve efeitos profundos:

  • Economia de energia em escala global, substituindo lâmpadas incandescentes e fluorescentes por LEDs.
  • Redução de emissões de carbono, ajudando na luta contra a crise climática.
  • Aplicações em dispositivos móveis, TVs, projetores, medicina e agricultura, graças à possibilidade de criar espectros específicos de luz.
  • Democratização da luz: regiões sem acesso fácil à rede elétrica puderam usar iluminação LED com painéis solares e baterias.

Hoje, os LEDs estão presentes em praticamente todos os setores da tecnologia — e o LED azul foi a peça-chave que completou o quebra-cabeça.

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