A Importância de Entender a Queda de Tensão
A queda de tensão (em inglês voltage drop) é um dos conceitos mais utilizados, mas frequentemente mal compreendidos, dentro da eletrônica e da eletrotécnica. Apesar de sua presença constante em medições de campo, manutenções e projetos, muitos técnicos e estudantes iniciantes utilizam esse termo de forma quase automática, sem se aprofundar no motivo real pelo qual a tensão “cai” ao longo de um circuito.
Neste artigo, vamos explorar esse fenômeno de maneira didática e detalhada, partindo do conceito fundamental de tensão, passando pelas causas da queda de tensão, até a aplicação das Leis de Kirchhoff e os efeitos práticos nos diferentes tipos de fontes de energia. A proposta é tornar o conteúdo claro e acessível para quem está começando ou deseja rever fundamentos com uma nova perspectiva.
O Que é um Volt?
Antes de entender o que significa uma queda de tensão, é essencial compreender primeiro o que é, de fato, um volt. Na eletrônica, o volt é a unidade de medida da diferença de potencial elétrico entre dois pontos. Essa diferença representa a quantidade de energia potencial elétrica disponível para mover cargas elétricas — normalmente elétrons — através de um circuito.
Podemos pensar no volt como a “pressão” que empurra os elétrons. Mas para que essa pressão seja percebida, sempre precisamos de dois pontos de referência. Não existe tensão em apenas um ponto isolado — ela sempre se mede entre dois pontos. Por isso, dizemos “tensão entre os terminais A e B” ou “queda de tensão ao longo de um resistor”.
Fórmula Didática do Volt
Do ponto de vista físico, o volt pode ser expresso como: \[V = \frac{E}{Q}\]
Onde:
- V é a tensão em volts (V),
- E é a energia potencial elétrica em joules (J),
- Q é a carga elétrica em coulombs (C).
Essa fórmula nos mostra que 1 volt é equivalente a 1 joule por coulomb, ou seja, 1 V = 1 J/C. Em termos simples, um volt representa a energia que cada coulomb de carga pode converter em trabalho (como calor, luz ou movimento).
Três Consequências Importantes
- A tensão é sempre medida entre dois pontos. Sem dois pontos, não há diferença de potencial. Por isso, o multímetro sempre tem duas pontas de prova.
- Alta tensão indica grande energia por carga. Quanto maior o valor de tensão, mais energia cada elétron carrega. Por isso, circuitos de alta tensão são perigosos.
- Pode existir tensão sem corrente. Mesmo que não haja fluxo de elétrons (corrente), pode existir tensão. Isso acontece, por exemplo, quando um circuito está aberto: há potencial acumulado, mas os elétrons ainda não têm por onde circular.
Como Ocorre a Queda de Tensão em um Circuito?
A chamada queda de tensão ocorre sempre que há movimento de cargas elétricas (elétrons) através de componentes que oferecem algum tipo de resistência. A tensão, como vimos, representa a energia potencial disponível para movimentar essas cargas. Quando os elétrons atravessam resistores, cabos, motores ou lâmpadas, parte dessa energia é convertida em outros tipos de energia — como calor, luz ou movimento — e, portanto, “se perde” ao longo do trajeto.

Mas cuidado com o termo “perda”: na verdade, essa energia não desaparece. Ela é transformada. Esse é um ponto-chave para compreender o fenômeno da queda de tensão: ela representa a diferença de energia potencial entre dois pontos causada por conversão de energia.
Exemplo: Lâmpada Incandescente
Imagine uma lâmpada incandescente. Quando a corrente passa por ela, os elétrons encontram um filamento com alta resistência. A energia elétrica ali é convertida em luz e calor, provocando uma queda de tensão significativa entre os terminais da lâmpada. A tensão que “entra” no lado do filamento não é a mesma que “sai” do outro lado — houve uma queda.
Isso é ilustrado pela fórmula de Ohm, que nos diz: \[V = R \cdot I\]
Onde:
- V é a queda de tensão (em volts),
- R é a resistência do componente (em ohms),
- I é a corrente que passa por ele (em amperes).
Quanto maior a resistência ou a corrente, maior a queda de tensão.
E os Fios?
Embora condutores como fios de cobre tenham resistência muito baixa, ainda há queda de tensão neles. Em longas distâncias ou com correntes elevadas, essa queda se torna relevante e deve ser considerada em projetos elétricos, principalmente em instalações residenciais, industriais e sistemas de energia solar.
Por isso, usamos cabos mais grossos para reduzir a resistência e, consequentemente, a queda de tensão. É a aplicação prática do mesmo princípio: menos resistência → menor queda de tensão.
Por Que a Soma das Tensões Deve Ser Zero?
Esse princípio é um dos pilares da análise de circuitos elétricos e eletrônicos, e tem nome: Lei das Malhas de Kirchhoff, também conhecida como Lei das Tensões de Kirchhoff.
A ideia por trás dessa lei é simples e poderosa: em qualquer malha fechada de um circuito, a soma algébrica das tensões deve ser igual a zero.
O Que Isso Significa na Prática?
Pense em um circuito como um trajeto circular que a corrente elétrica percorre. Se começarmos em um ponto e dermos uma volta completa passando por resistores, fios, lâmpadas e voltarmos ao ponto de origem, a energia total “fornecida” deve ser igual à energia “gasta” ou convertida ao longo do caminho. \[\sum V = 0\]
Ou seja, se temos uma fonte de 12V e uma lâmpada que consome 10V, e fios que consomem 2V, ao somar tudo: \[(+12V) + (-10V) + (-2V) = 0\]
Isso reforça a ideia de que não existe “sobra” de tensão. Toda a energia fornecida por uma fonte será usada (convertida) nos componentes do circuito — seja em forma de luz, calor, movimento ou mesmo pequenas perdas nos fios.
O Que Acontece em Caso de Curto-Circuito?
Um detalhe interessante ocorre quando a resistência do circuito se aproxima de zero, como no caso de um curto-circuito. A corrente elétrica tende a aumentar muito, pois não há impedimento para o fluxo de elétrons. Como resultado, a energia é liberada rapidamente, geralmente em forma de calor, podendo danificar os componentes ou até causar incêndios. Nesses casos, embora a Lei de Kirchhoff continue válida, o comportamento do circuito muda drasticamente.
Fontes Diferentes Comportam-se de Formas Diferentes
- Fontes com alta capacidade de corrente, como baterias de carro ou fontes industriais, podem manter a tensão quase constante até que a corrente atinja níveis altíssimos.
- Fontes pequenas, como baterias de botão, não conseguem fornecer grandes correntes. Assim, se a resistência do circuito for baixa, a tensão da própria fonte começa a cair — fenômeno conhecido como “afundamento de tensão” (voltage sag).
Ou seja, mesmo quando a tensão total em uma malha for sempre zero, os valores individuais podem variar dependendo da carga e da capacidade da fonte.
Queda de Tensão na Prática
Entender o que é uma queda de tensão vai muito além de saber que um valor diminui entre dois pontos do circuito. Esse fenômeno é uma ferramenta poderosa de diagnóstico, além de ser essencial para o dimensionamento de condutores, fusíveis, fontes e equipamentos elétricos.

No cotidiano da eletrônica, técnicos utilizam voltímetros justamente para identificar quedas anormais de tensão. Se um motor está recebendo menos tensão do que o esperado, isso pode significar um fio subdimensionado, uma conexão oxidada, ou até mesmo um componente defeituoso no caminho. Medir e entender a queda de tensão ajuda a localizar falhas sem danificar o circuito — uma vantagem imensa tanto para quem conserta quanto para quem projeta.
Outro ponto prático é o custo da eficiência: quanto maior a corrente exigida por um sistema, maior será a queda de tensão nos fios, e mais robustos precisam ser os cabos. Isso significa mais cobre, mais conduítes, e mais disjuntores — ou seja, mais dinheiro. Por isso, em sistemas de potência, muitas vezes se opta por trabalhar com tensões mais altas e correntes mais baixas, mantendo a mesma potência com menor queda de tensão. Essa estratégia é a base, por exemplo, das linhas de transmissão de energia elétrica.
Por fim, ao compreender como a tensão se comporta e como ela é convertida em energia útil (ou mesmo desperdiçada), abrimos caminho para projetos mais eficientes, seguros e duráveis.
Sobre o Autor
Carlos Delfino
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Um Eterno Aprendiz.
Professor de Introdução a Programação, programação com JavaScript, TypeScript, C/C++ e Python
Professor de Eletrônica Básica
Professor de programação de Microcontroladores.
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